Um pacto com Deus
Jeromi Hawran
- André Teixeira
Jeromi Hawran, de 30 anos, é um missionário francês que, assim como a maioria dos missionários que atuam na Comunità Cenacolo -no mundo e especificamente na casa da Comunità em Mogi, a Associação São Lourenço- decidiu pela vida de missões após passar por um período de encontro consigo mesmo.
Ex-dependente químico, conheceu a casa da entidade que há na França. Lá, permaneceu por dois anos, decidido a largar os vícios e mudar sua vida. Foi à Itália para ser colaborador nas três unidades da Comunità que estão localizadas na região de Saluzzo, onde permaneceu por cinco anos. Por dois anos, estudou Teologia e logo retornará à Itália para cursar Filosofia e terminar Teologia, condições básicas, entre outras que cita na entrevista, para ser um padre. No Brasil desde 25 de janeiro de 2010 para um experiência missionária. Jeromi, ainda aprendendo o português, conversou com a Equipe Meta sobre os desafios e a escolha de vida que fez. “Optei por uma vida que possa contribuir para o viver dos outros. Fiz um Pacto com Deus”, diz ele.
Leia os principais trechos da entrevista.
Meta – Jeromi, o que é mais difícil na vida missionária?
Jeromi – Para mim, sinceramente, é colocar os outros em primeiro lugar e no caso das crianças aqui na Associação é ensinar o que é bom para elas, deixando de impor o que é bom para mim mesmo. Ou seja, não ser oportunista. Pois muitas vezes, como seres humanos, exigimos como educação aquilo que é bom para nós; temos que escutar as pessoas, entender suas necessidades, respeitar as individualidades. Mas outra coisa difícil é aprender a língua portuguesa e a cultura de onde se faz a missão.
Meta – O que mais lhe cativa no serviço missionário?
Jeromi – O começar de novo de cada um e de cada dia. Muito importante e motivador. Como aqui somos todos cristãos, o mais importante e a misericórdia. Sabemos que podemos errar, então temos de ter misericórdia para perdoar os meninos e meninas que erram. Isso nos traz paciência e a possibilidade de todo dia começarmos de novo. Temos de ser como Jesus que sempre perdoa e saber que só Ele nunca erra. Ele foi o maior missionário.
Meta – Além de Jesus, como missionário, há alguém que você se inspira para seguir a vida de missões?
Jeromi – Madre Tereza (de Calcutá) pelo seu jeito radical de ter deixado tudo para viver para os outros. Mas penso que um missionário não é somente aquele que deixa tudo, como Madre Tereza, ou que saia de seu país como eu e todos aqui para ajudar outros; missionário é aquele que faz pequenas coisas para as crianças, adolescentes, jovens, para todo cidadão que necessitam e que faz uma grande diferença. Como, por exemplo, amar, orientar, falar de Deus e ensinar com seu exemplo o caminho certo. Todo pai e mãe deve ser um missionário. Todo professor, aluno...
Meta – Jeromi, você é um ex-dependente químico. Hoje pensa em ser padre. Como foi a reação de seus familiares e de seus amigos a essa mudança, também radical de vida e a sua escolha por ser missionário??
Jeromi – Minha família sempre foi religiosa e aceitou bem minha escolha, além de logicamente ter ficado feliz com minha mudança. Meus antigos amigos, mesmo aqueles que usavam drogas comigo, também ficaram felizes, pois tenham a certeza que o maior desejo de um viciado é sair das drogas. Estas pessoas que são viciadas, e sei disso por ter vivido essa realidade, sabem que aquilo não é uma vida verdadeira e muitos estão presos na ilusão de que um dia aquilo tudo acaba. De qualquer jeito acaba, mas muitas vezes com a morte. Eu escolhi a vida e eles ficaram felizes por mim. Quanto a ser padre, penso mesmo em ser e já estudei dois anos de Teologia na Itália. Retorno um dia para lá para terminar meus estudos e seguir firme neste propósito.
Meta – Então depois dessa experiência missionária aqui em Mogi das Cruzes na Associação São Lourenço, quais os passos a seguir para alcançar esse objetivo, além da Teologia?
Jeromi – Decidi ser padre há quatro anos, quando me restaurei totalmente das drogas. Preciso voltar e terminar minha Teologia e fazer Filosofia. O processo é longo... Na medida em que vou renovando meus votos tenho que paralelamente estudar muito. O postulante à padre deve estudar Filosofia. São três anos no mínimo. Depois vem a parte do processo de discernimento do chamado de Deus, sua vocação. Ai passamos pelo Pré-Noviciado - chamado – ANO SPES – Síntese Pessoal das Experiências Substantivas. Um ano de noviciado, para passar pelo aprofundamento de vida, história e a espiritualidade redentorista. Ao fim de três anos, os votos temporários são renovados. Além disso, antes de professar os votos perpétuos, somos nomeados diáconos e depois padre. É continuo, mas estou decidido. Optei por uma vida que possa contribuir para o viver dos outros. Fiz um pacto com Deus.